Se você é mãe, pai ou responsável de gêmeos com alergias alimentares, sabe o quanto é desafiador garantir a segurança deles no ambiente escolar. O receio de uma reação alérgica pode ser constante, mas com organização, informação e apoio da escola, é possível minimizar os riscos e proporcionar um ambiente seguro para seus filhos.
Como nutricionista, quero te ajudar a entender como preparar a escola e os cuidadores (professores, inspetores de alunos, serventes de merendeiros/cozinheiros, etc.) para lidar com essa condição.
O Que São as Alergias Alimentares?
As alergias alimentares acontecem quando o sistema imunológico reage a um alimento específico como se fosse uma ameaça. Essa reação pode causar sintomas leves, como coceira e vermelhidão, ou até mesmo reações graves, como choque anafilático, que exige atendimento médico imediato. Os alimentos que mais causam alergias em crianças são leite de vaca, ovo, amendoim, nozes, trigo, soja, peixes e frutos do mar.
Primeiros Passos para Garantir a Segurança na Escola
Seus gêmeos estão prontos para a escola? Antes de iniciar o ano letivo, siga essas orientações:
- Converse com a escola: Informe a direção e os professores sobre a alergia alimentar dos seus filhos. Pergunte quais são as políticas da escola em relação a alimentos alérgenos e como lidam com casos de emergência.
- Entregue um laudo médico: Um relatório assinado pelo médico (constando nele o diagnóstico da alergia) ajudará a escola a entender a gravidade da alergia e saber como agir.
- Crie um plano de emergência: Um documento simples, com os sintomas e os procedimentos que a escola deve seguir em caso de reação alérgica, pode salvar vidas. Inclua contatos de emergência e a orientação sobre o uso de medicamentos como a adrenalina autoinjetável (caso indicado pelo médico).
- Treine a equipe escolar: Se possível, organize uma breve reunião para explicar como identificar uma reação alérgica e agir rapidamente.
Se seus(suas) gêmeos(as) estudam numa escola pública:
1. O Papel das Leis Nº 11.947/2009 e Nº 12.982/2014 na Alimentação Escolar dos Alunos com Alergias Alimentares
A Lei Nº 11.947, de 16 de junho de 2009, define regras para a alimentação em escolas públicas do Brasil. Ela assegura que os estudantes do ensino básico tenham acesso a refeições que ajudem no seu crescimento, aprendizado, desempenho escolar e na formação de hábitos saudáveis. Essa legislação desempenha um papel crucial na oferta de uma alimentação apropriada e saudável nas escolas, contribuindo também para a inclusão social.
Já a Lei Nº 12.982, de 28 de maio de 2014, alterou essa lei acima para incluir um artigo específico para alunos com necessidades alimentares especiais. Essa atualização estende os direitos a estudantes que necessitam de dietas especiais devido a condições de saúde como alergias alimentares (ex: alergia à proteína do leite de vaca), intolerâncias (como intolerância à lactose), necessidades nutricionais especiais (doença celíaca) ou doenças crônicas como diabetes. A lei garante que esses estudantes recebam refeições adaptadas às suas necessidades, promovendo acesso equitativo a uma nutrição adequada.
A implementação dessas leis envolve a cooperação de governos locais, escolas, nutricionistas responsáveis pela alimentação escolar e toda a comunidade escolar.
2. Implementação das Leis de Alimentação Escolar: Adequação para Alunos com Dietas Especiais
Como nutricionista da Alimentação Escolar da Prefeitura de Franca, um dos pontos mais importantes do meu trabalho é adaptar os cardápios para alunos com necessidades especiais, como alergias e intolerâncias alimentares, conforme determina a legislação.
Para realizar esse trabalho de forma eficaz, solicito que as unidades escolares peçam aos pais ou responsáveis o envio de um laudo médico (ou declaração de nutricionista) com o diagnóstico da condição do aluno (ex: alergia a ovo), além de informações essenciais como nome, data de nascimento e turno de estudo. Esses detalhes são fundamentais (como o período no qual o estudante frequenta a escola, pois o turno influencia diretamente quais refeições são oferecidas ao aluno, ajustando o cardápio conforme necessário.)
Com base nessas informações, elaboro uma orientação nutricional individualizada, especificando os alimentos que são proibidos e permitidos, considerando as marcas utilizadas na merenda escolar, para garantir total segurança alimentar. Além disso, incluo orientações detalhadas sobre o modo de preparo e medidas específicas para os merendeiros, visando minimizar riscos de contaminação cruzada e garantir que as refeições sejam preparadas de acordo com as necessidades de cada aluno.
Mantenho uma tabela detalhada com os dados de todos os alunos atendidos (das mais de 200 creches e escolas que o município atende), onde faço um controle rigoroso dos itens perecíveis e estocáveis que devem ser enviados para cada escola (ou creche), com base na alergia da criança, adolescente ou adultos. Esse controle permite que a alimentação fornecida seja o mais próxima possível da oferecida aos demais estudantes (para que eles se sintam incluídos), com as devidas adaptações nas receitas para atender a cada caso específico de alergia ou intolerância alimentar.
De tempos em tempos envio e-mail às escolas (e/ou ligo), solicitando um laudo médico atualizado, para confirmarmos as alergias alimentares (que costumam ou aumentar o número de alergias, deixar de ter alguma alergia ou se mantém). Isso dá mais segurança, tanto para a criança, a família, a escola, os merendeiros e as nutricionistas da Merenda.
Da mesma forma que faço isso nas escolas públicas de Franca, o(a) nutricionista da Alimentação Escolar da sua cidade deve fazer, para que a lei seja cumprida e seus filhos recebam esse mesmo cuidado e amor em forma de uma refeição adaptada as suas necessidades. Por isso, entre em contato com a escola deles e forneça as informações que citei serem necessárias, pois só assim o(a) nutricionista saberá das restrições alimentares deles (através desse contato da escola e envio do laudo médico) e poderá tomar as providências cabíveis.
Se seus(suas) gêmeos(as) estudam numa escola particular:
1. Como Preparar a Lancheira com Segurança
Como nas escolas particulares não serve-se refeições de forma gratuita, e os alimentos que costumam ser vendidos na cantina costumam ter os alimentos alergênicos (como ovo, leite, trigo, etc.), montar a lancheira dos gêmeos é a opção mais segura. Todavia, isso pode ser um desafio, mas com planejamento, é possível oferecer opções seguras, saborosas e nutritivas. Algumas dicas:
- Evite industrializados: Leia os rótulos com atenção, pois muitos produtos contêm traços de alérgenos (ou seja: esses alimentos não possuem a substância que causa alergia, mas devido à contaminação cruzada na indústria que fabrica ou embala o produto, ele pode conter traços; que darão alergia, dependendo do nível dessa alergia).
- Prefira alimentos naturais: Frutas, vegetais, pães e bolos caseiros (sem recheio ou cobertura) são boas opções, pois não necessitam de refrigeração e são itens fáceis de preparar, além da boa aceitação.
- Use potes identificados: Coloque etiquetas nos recipientes para evitar trocas acidentais, principalmente se os gêmeos tiverem alergias diferentes.
- Varie o cardápio: Para evitar a monotonia, alterne entre sanduíches, biscoitos caseiros e outras opções seguras (que você preparou ou que comprou de quem saiba que fabrica e toma muito cuidado com a questão dos ingredientes utilizados e da contaminação cruzada, como você).
2. Prevenindo Acidentes e Contaminação Cruzada
Mesmo com os cuidados na lancheira, a contaminação cruzada é um grande risco. Algumas medidas que podem ajudar:
- Oriente seus filhos a não compartilharem comida (principalmente, recusarem qualquer item).
- Caso haja risco de contato com alérgenos, e o nível da alergia deles for elevado (tendo esse contato com farelos na mesa do refeitório, por exemplo), peça para a escola disponibilizar um lugar específico para os gêmeos comerem (ou que eles comam antes dos demais estudantes).
- Verifique se os materiais de limpeza usados na escola removem corretamente os resíduos de alimentos alérgenos das superfícies (e que seja higienizada a mesa antes deles se alimentarem).
Como Ensinar os Gêmeos a Se Protegerem
Desde cedo, seus filhos precisam aprender a identificar riscos e se proteger.
- Ensine-os a reconhecer os alimentos proibidos: Use histórias, brincadeiras e figuras para tornar o aprendizado mais fácil.
- Reforce a importância de perguntar antes de comer algo: Eles devem sempre conferir com um adulto de confiança se um alimento é seguro.
- Explique sobre os sintomas de uma reação alérgica: Caso sintam algo estranho, devem avisar um adulto imediatamente.
- Incentive a autonomia na escolha dos alimentos: Quanto mais cedo aprenderem a identificar o que podem ou não consumir, mais seguros ficarão.
E Se uma Reação Alérgica Acontecer?
Mesmo com todos os cuidados, acidentes podem acontecer. Por isso, é essencial que a escola esteja preparada para agir rápido. Se houver uma reação:
- Mantenha a calma e siga o plano de emergência.
- Aplique a medicação indicada pelo médico, se necessário.
- A escola deve acionar os pais e o serviço médico imediatamente.
- Evite esperar para ver se os sintomas passam. O tratamento precoce salva vidas.

Garantir a segurança dos gêmeos com alergias alimentares na escola (seja ela pública ou privada) requer planejamento, informação e trabalho em equipe entre pais, escola, equipe da Alimentação Escolar (trabalho em conjunto dos nutricionistas e merendeiros/cozinheiros das escolas) e crianças. Com as medidas certas, você pode reduzir significativamente os riscos e oferecer aos seus filhos um ambiente mais seguro e acolhedor.
Se precisar de ajuda com um plano alimentar adequado ou orientações nutricionais específicas (principalmente, se eles tiverem várias alergias alimentares), me procure para te guiar esse processo. Afinal, alergia alimentar não deve ser um obstáculo para o desenvolvimento escolar dos seus filhos, e sim um desafio que pode ser superado com conhecimento e prevenção!