Amamentação e Alergias em Gêmeos: O Que Toda Mãe Precisa Saber

O leite materno é um alimento completo, dinâmico e adaptado às necessidades do bebê. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ele fornece todos os nutrientes essenciais nos primeiros seis meses de vida e continua sendo importante até os dois anos ou mais.

Estudos mostram que ele é rico em imunoglobulinas (como IgA), probióticos naturais e fatores anti-inflamatórios que fortalecem o sistema imunológico imaturo do recém-nascido (Victora et al., 2016).

Amamentação e Prevenção de Alergias: O Que Diz a Ciência?

A relação entre amamentação e alergias alimentares é um tema muito pesquisado, mas os resultados nem sempre são definitivos. Um estudo publicado no Journal of Pediatrics (Greer et al., 2019) sugere que o aleitamento materno exclusivo por pelo menos quatro meses pode reduzir o risco de eczema atópico e asma em crianças predispostas. Isso acontece porque o leite materno modula o microbioma intestinal, essencial para o equilíbrio imunológico.

No caso de gêmeos, a proteção pode ser ainda mais relevante. Gêmeos frequentemente nascem prematuros ou com baixo peso, o que os coloca em maior risco para condições alérgicas (Tham et al., 2018). O leite materno, com seus componentes bioativos, como a lactoferrina e os ácidos graxos ômega-3, ajuda a fortalecer a barreira intestinal e reduzir a permeabilidade a alérgenos. Confesso que, como mãe, isso me dá uma paz extra ao amamentar minhas meninas, mesmo nas noites mais cansativas.

Por outro lado, a amamentação não é uma garantia absoluta contra alergias. Um estudo no Allergy (Lodge et al., 2015) aponta que, em crianças com histórico familiar forte de atopia (como pais alérgicos), o efeito protetor pode ser menos pronunciado. Ainda assim, a OMS e a Academia Americana de Pediatria recomendam o aleitamento exclusivo por seis meses como uma das melhores estratégias preventivas.

Gêmeos e Amamentação: Um Desafio Duplo

Amamentar gêmeos é uma aventura à parte. Nos primeiros dias, eu me sentia como uma “fábrica de leite” funcionando 24 horas por dia! Cada bebê tem seu ritmo (no início, uma por exemplo tinha mais facilidade na pega e na sucção e a outra, menos) e encontrar uma rotina que funcionasse para ambas foi um aprendizado.

Uma dúvida comum é se a amamentação de gêmeos influencia diferentemente o risco de alergias em cada um. Gêmeos idênticos compartilham o DNA, mas fatores epigenéticos e ambientais – como a ordem de nascimento ou pequenas diferenças na exposição ao leite – podem gerar variações sutis na resposta imunológica (Ullemar et al., 2018). Já gêmeos fraternos têm perfis genéticos distintos, o que pode afetar como cada um se beneficia do leite materno.

O Uso de Fórmulas para Nutrir Gêmeos

Amamentar gêmeos é uma tarefa incrível, mas nem sempre o leite materno sozinho consegue atender toda a demanda, especialmente nos primeiros meses. É comum que gêmeos precisem complementar a amamentação com o uso de fórmulas infantis (como Nestogeno 1, Aptamil 1, etc.- as chamadas “fórmulas de partida”), seja por questões de produção insuficiente, prematuridade ou até mesmo para dar um respiro à mãe em meio à rotina intensa.

Eu mesma recorro a essa estratégia em alguns momentos, especialmente quando percebo que uma das meninas fica mais faminta ou quando minha produção oscila nos dias mais exaustivos. Estudos mostram que mães de gêmeos produzem, em média, 1,5 a 2 litros de leite por dia (Saint et al., 1986), mas fatores como estresse, cansaço ou a necessidade de ganho de peso rápido – comum em gêmeos prematuros ou de baixo peso – podem justificar o uso de fórmulas. Na maior parte das vezes, a mãe já sai de alta hospitalar com a prescrição de fórmula para complementar a oferta nutricional de bebês gêmeos.

Segundo a Academy of Nutrition and Dietetics, fórmulas infantis são uma alternativa segura e nutricionalmente adequada quando o aleitamento exclusivo não é possível, desde que escolhidas sob orientação de um pediatra ou nutricionista (AND, 2016). No meu caso, no hospital já autorizei que a equipe ofertasse às minhas filhas fórmula para complementar meu leite materno; porém sempre priorizo o leite materno e uso a fórmula como apoio, o que me trouxe tranquilidade e garanta que minhas gêmeas continuem crescendo saudáveis.

Para quem considera essa opção, vale conversar com o pediatra sobre o tipo de fórmula e manter um equilíbrio com o leite materno, aproveitando seus benefícios imunológicos quando possível.

O Papel da Dieta Materna

Durante a amamentação, proteínas de alimentos como leite, ovo ou amendoim podem aparecer em pequenas quantidades no leite, geralmente em níveis de microgramas por litro (Vadas et al., 2001). Isso levanta a questão: será que a dieta poderia influenciar o risco de alergias nas gêmeas?

Antigamente, recomendava-se que mães evitassem alérgenos comuns durante a amamentação. Hoje, a ciência avançou. Um estudo no Journal of Allergy and Clinical Immunology (Du Toit et al., 2016) sugere que a exposição precoce e controlada a alérgenos via leite materno pode, na verdade, promover tolerância imunológica, reduzindo o risco de alergias futuras. Por isso, mantenho uma dieta variada – como de tudo, de castanhas a alimentos com soja –, sempre observando as meninas. Até o momento, elas não mostraram sinais de alergia/desconforto, o que me tranquiliza como mãe e profissional. Você pode fazer o mesmo.

Dicas Práticas para Amamentar Gêmeos

Amamentar gêmeos exige estratégia. Aqui vão algumas dicas que me ajudam e que podem facilitar sua vida:

  1. Posições Confortáveis: Use a posição “futebol americano” (um bebê de cada lado, pés para trás), dando de “mamá” simultaneamente ou amamente uma enquanto a outra criança descansa. Teste até encontrar o que funciona para você. Sugiro que só amamente as duas crianças ao mesmo tempo quando tiver outra pessoa junto para te auxiliar se necessário, pois às vezes uma pode engasgar e você está com a outra no seio (dificultando a realizar uma manobra de emergência), além de outras circunstâncias que acontecem.
  2. Rotina Sincronizada: As pessoas pensam que crianças gêmeas fazem tudo na mesma hora. Dormem ao mesmo tempo, acordam ao mesmo tempo, etc. Mas não é porque são gêmeos(as) que tudo é sincronizado, acredite. Por isso, tente alinhar os horários das mamadas. Se uma acorda, gentilmente desperte a outra. Isso me dá pequenos intervalos de calmaria, e podem te auxiliar também. Faça o mesmo com a troca de fraldas, horário do banho, entre outras rotinas diárias.
  3. Hidratação e Nutrição: Em média, você precisa consumir 500 calorias extras por dia por bebê (Butte & King, 2005). Água, frutas e lanches saudáveis como castanhas, uva-passa branca e lanchinhos naturais são meus aliados para hidratar bem o corpo, garantir uma produção de leite e aguentar a rotina de cuidados (se com um bebê já é cansativo, imagine com duas, mais o irmão mais velho!).
  4. Banco de LeiteCaseiro“: Nos dias em que a produção não acompanha o consumo delas (afinal, existe uma oscilação na produção), coleto o leite materno e armazeno. Isso é um salva-vidas quando uma das meninas queria mamar mais e eu não queria ofertar fórmula. E assim como a fórmula, meu esposo pode ofertar na mamadeira, sendo possível o auxílio dele nessa tarefa também.
  5. Apoio: Meu esposo, minha mãe e meus sogros foram essenciais nesse início. Um segurava uma bebê enquanto eu ajustava a outra para amamentar. Meus sogros foram bem participativos: minha sogra me ajudou em especial com a alimentação, fazendo comida vários dias para minha família (canjica que adoro e as crenças antigas dizem que ajudam na produção de leite – e não esqueçamos o quão gostoso e nutritivo é, e mal não faz!). Eles também olharam meu filho mais velho em alguns momentos, para que eu e meu marido pudéssemos levar as meninas ao hospital (já que tiveram icterícia e internaram novamente para tomar banho de luz), irmos ao retorno com o ginecologista, etc. Essa rede de apoio, atuando principalmente logo após o parto (um momento muito delicado, no qual você está se recuperando de um parto normal ou cesárea, com muitas dores e privação de sono), é primordial.

Benefícios Além das Alergias

Além do possível efeito protetor contra alergias, a amamentação traz vantagens incríveis para gêmeos. Um estudo no American Journal of Clinical Nutrition (Dewey, 2001) mostra que bebês amamentados têm menor risco de infecções respiratórias e diarreia, algo vital para gêmeos, que podem ser mais vulneráveis por, na maior parte dos casos, nascerem mais precocemente.

O vínculo emocional também é único. Amamentar duas ao mesmo tempo me conecta às minhas filhas de um jeito especial – é o nosso momento, mesmo no meio da correria e cansaço.

Quando Introduzir Sólidos?

Aos seis meses, chega a hora dos alimentos sólidos, e a dúvida sobre alergias reaparece. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda iniciar a introdução alimentar entre 6 e 8 meses, com alimentos simples como frutas amassadas e vegetais cozidos. Estudos recentes, como o LEAP (Learning Early About Peanut Allergy), sugerem que introduzir alérgenos comuns (como amendoim) cedo, sob orientação médica, pode prevenir alergias em crianças de risco (Du Toit et al., 2015).

O Lado Humano da Jornada

Amamentar gêmeos não é só ciência – é emoção pura. Tem noites em que eu mal durmo, mas ver minhas meninas ganhando peso e sorrindo faz tudo valer a pena. Como nutricionista, sei dos benefícios imunológicos e nutricionais; como mãe, sinto o amor em cada mamada. É um equilíbrio entre conhecimento e instinto que só quem vive entende.

fonte: https://vilamaterna.com/amamentacao-tandem-e-gemeos/

Amamentar gêmeos é um desafio que recompensa em dobro. O leite materno oferece uma base sólida para a saúde, com evidências sugerindo proteção contra alergias, especialmente em gêmeos. Não há garantia absoluta, mas os benefícios – do microbioma fortalecido ao vínculo único – são inegáveis. Como nutricionista, recomendo o aleitamento exclusivo por seis meses e uma dieta materna variada. Como mãe de gêmeas, digo: confie em si mesma, peça apoio e aproveite cada momento. Sua duplinha merece esse cuidado, e você também!

Leia também: Diferença entre Alergia e Intolerância Alimentar em Gêmeos: Como Saber o Que é o Quê?

Referências:

  • Victora, C. G., et al. (2016). The Lancet, 387(10017), 475-490.
  • Greer, F. R., et al. (2019). Journal of Pediatrics, 206, 276-283.
  • Tham, E. H., et al. (2018). Allergy, 73(5), 1051-1061.
  • Lodge, C. J., et al. (2015). Allergy, 70(11), 1358-1372.
  • Ullemar, V., et al. (2018). Allergy, 73(5), 1042-1050.
  • Vadas, P., et al. (2001). Journal of Allergy and Clinical Immunology, 107(2), 367-368.
  • Du Toit, G., et al. (2016). Journal of Allergy and Clinical Immunology, 137(4), 998-1010.
  • Butte, N. F., & King, J. C. (2005). American Journal of Clinical Nutrition, 82(1), 250S-257S.
  • Dewey, K. G. (2001). American Journal of Clinical Nutrition, 73(5), 959-965.
  • Saint, L., et al. (1986). American Journal of Clinical Nutrition, 43(6), 977-984.
  • Academy of Nutrition and Dietetics (AND). (2016). Position Paper on Infant Feeding.

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